Quando se fala em hipnose, muitas pessoas logo associam àquelas brincadeiras apresentadas na televisão
em que um sujeito, balançando um relógio na frente de uma “vítima”,
altera o estado de consciência dela, fazendo-a esquecer o próprio nome,
mudando seu comportamento ou revelando coisas que não gostaria. No
entanto, é nos consultórios, bem distante dos holofotes, que a hipnose
ganha força e vem crescendo no Brasil e no mundo, amparada por pesquisas que
comprovam sua eficácia tanto para amenizar a dor e a depressão como para
auxiliar no emagrecimento.
Recém-lançada há quatro meses, a Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH) venceu
uma licitação da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) para
ainda neste mês realizar treinamentos de hipnose com a equipe de obstetrícia do
Hospital Regional Antônio Dias, em Patos de Minas, com o foco na dor em
gestantes em trabalho de parto. O fundador da SBH, Erick Heslan, acredita que o
projeto pode chamar atenção de outros hospitais. “É um tema que está em alta e
vem sendo muito utilizado no resto do mundo, mas, no Brasil, ainda não tem
nenhum programa de hipnose dentro de hospitais”, disse.
Atualmente, não existe uma legislação específica sobre o uso da hipnose no país, e
a técnica ainda não é regulamentada. Porém, os Conselhos Federais de Medicina,
Psicologia, Odontologia e Fisioterapia recomendam o uso das técnicas
hipnoterápicas como alternativas terapêuticas e coadjuvantes aos tratamentos
convencionais.
Em outros países, como a França e a Bélgica, os anestesistas estão oferecendo a
hipnossedação – que combina a hipnose com a anestesia local – como alternativa à
anestesia geral em cirurgias. O diretor do Centro de Medicina Integrativa da
Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, David
Spiegel, realizou uma pesquisa instruindo pacientes em técnicas de auto-hipnose
antes de serem submetidos a procedimentos vasculares ou renais.
O estudo, publicado no jornal “The Lancet”, mostrou que, em comparação com os
pacientes que receberam cuidados-padrão, o grupo de hipnose usou
significativamente menos medicação para dor. A equipe agora testa a mesma
abordagem em pacientes com cirurgia no joelho e no quadril. Com o estudo,
percebeu-se também que a hipnose ajuda os pacientes a passarem pelo período
pós-cirúrgico mais rapidamente, uma vez que os pacientes que usam analgésicos
por mais de três dias têm maiores chances de desenvolver dependência das
substâncias.
Estudos de revisão já mostraram ainda a eficácia da hipnose na redução do
incômodo para uma grande variedade de condições que levam à dor crônica (por
exemplo: câncer, dor lombar, artrite, doença falciforme, dor temporomandibular,
entre outras).
Para a estudante de veterinária em Brasília, Jessica Botti Ferreira, 23, a hipnose
clínica foi fundamental para ajudá-la na amamentação do filho. “Durante a
gravidez passei por bastante estresse emocional. Além disso, tenho epilepsia e
estava sem tomar a medicação, devido à gravidez. Quando o bebê nasceu, o parto
foi de risco. Tive complicações, fiquei em coma durante cinco dias, e o meu leite
secou completamente”, lembra.
Depois de passar um mês sob efeito de medicação para tentar estimular a
amamentação, sem sucesso, ela tentou a hipnose. “A sessão (de hipnose) durou
duas horas e quarenta minutos e, assim que terminou, minha blusa estava
encharcada de leite. Meia hora depois, eu estava amamentando meu filho sem
problema algum. Nem precisei fazer outra sessão”, conta.
Jessica, que até então só conhecia a hipnose de entretenimento, se surpreendeu.
“Vi que é só uma ferramenta que o profissional usa para poder libertar aquilo que
talvez nem mesmo você saiba que está te atrapalhando”, afirma.
Técnica ajuda a melhorar autoestima e, assim, torna-se arma contra doenças
Em janeiro deste ano, uma convenção internacional dedicada ao tema foi realizada
em Belo Horizonte e reuniu mais de 400 profissionais. Um dos estudos
apresentados foi o da psicóloga e terapeuta Beatriz Acampora, sobre os impactos
da autoestima na saúde mental.
Também escritora e autora de cerca de 20 livros, ela pesquisou mais de cem
profissionais da área da saúde no Rio de Janeiro. “Apesar de parecer que tinham
uma boa autoestima, eles não conseguiam ter boa saúde mental. Vários problemas,
como depressão, dor física e falta de vitalidade foram relatados. Percebemos que a
autoestima estava sendo prejudicada em função do trabalho que executavam”,
aponta.
Em sua palestra, Beatriz falou sobre o uso da hipnose para melhorar a autoestima.
Segundo ela, a técnica parte do princípio de que toda doença é um sintoma e que a
mente é um sistema complexo formado pela consciência e pela inconsciência. E a
hipnose trabalha justamente com essa última.
“Nós temos muitos sentidos (visão, audição, olfato…), e todos eles vão nos
colocando para fora. A gente vai prestando atenção nos estímulos externos. Mas,
quando a pessoa está em transe, ela presta atenção nos estímulos internos e
percebe o que pode ser mudado e melhorado”, explica.
Por isso, logo na primeira sessão os resultados aparecem. Porém, a psicóloga
explica a necessidade de continuidade no tratamento. “Tive uma paciente que me
procurou porque estava com câncer e, após a primeira sessão, já achou que estava
curada. Mas ela tinha um problema de autoestima e não sabia dizer ‘não’. Então,
depois, quando retornou a seu ambiente, o sintoma só migrou, e a doença voltou
por duas vezes”, conta.
A ansiedade também atrapalhava o administrador André Guerra, 30, a se
apresentar em público. “Já tinha tentando outras coisas, mas nunca tinha achado
uma ferramenta que fosse eficiente. Fiz hipnose com regressão e, na hora que
precisei colocar à prova, o resultado surgiu. Uma semana depois, tive que falar em
público e já me sentia mais tranquilo e confiante”, conta.
Autor: Litza Mattos
fonte: https://www.otempo.com.br/interessa/sa%C3%BAde-e-ci%C3%AAncia/medicina-se-rende-ao-poder-da-hipnose-1.1570099
Paz com todos.
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